Angulação do braço: correção com calços
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Angulação do braço: correção com calços



         Eu já troquei muitos braços (parafusados, é claro) de guitarras nesses últimos anos. Algumas Stratos já experimentaram uns 3 a 4 braços diferentes :). Coisas do tipo: "Vou experimentar colocar o braço da strato "A" no corpo da strato "B" e vice-e-versa..." Tudo seria uma maravilha se todas as stratos e seus respectivos braços seguissem um padrão (o Fender, por exemplo) de medidas de largura e altura. Do tróculo (cavidade do corpo onde o braço é encaixado) e do braço.
Mas, na vida real, a lei de Murphy impera e sempre tem aquele milímetro a mais ou a menos pra pentelhar. Na maioria dos casos, o ideal é buscar a ajuda de um luthier, principalmente se tivermos que mexer no tróculo.



         Entretanto, um problema bastante comum e relativamente fácil de resolver em casa é o da angulação do braço (estaremos falando sempre em braços parafusados). Não confunda com "curvatura do braço", que é relacionada com seu próprio eixo e é regulada com o tensor. Antes de checar e arrumar a angulação, cheque a curvatura e faça o ajuste com o tensor, se necessário.

Teoricamente, ao contrário dos braços da Gibson, por exemplo, os braços tipo "Fender" não têm nenhuma angulação em relação ao corpo, ou seja, são colocados "retos no corpo reto".


Eventualmente, devido às superfícies do tróculo e da base de encaixe do braço, pode haver uma angulação, fazendo com que o braço fique apontando pra baixo ou pra cima em relação ao corpo. É importante reconhecermos esse problema porque geralmente tentamos compensá-lo mudando a altura dos carrinhos/saddles, mas mesmo assim sempre haverá uma região com trastejamento.

Quando isso acontece (angulação), temos os dois possíveis problemas descritos nessa ilustração:

Hoje em dia, com as máquinas CNC, angulação é um problema que raramente ocorre "de fábrica". Mas já vi fotos de Fenders da década de 50 com calços (Shim) no tróculo pra compensar - e esses calços foram colocados na fábrica... :). O calço pode ser de qualquer material, geralmente papel grosso (a espessura dependerá de quanto queremos corrigir, mas geralmente não ultrapassa 1mm)

Considerando a ilustração anterior, as respectivas posições dos calços para correção são as seguintes:

Seguem agora uma série de fotos que peguei na intenet do processo (é um baixo mas o princípio é o mesmo):



Podemos retirar as cordas e depois retirar o braço, mas como quase nunca dá pra ter certeza da espessura exata do calço, recomendo adotar esse procedimento: afrouxe as cordas mas fixe-as ao braço com um capo ou mesmo um elástico sob pressão. Assim, podemos retirar o braço, colocar o calço e testar rapidamente se funcionou ou não. Caso resolva retirar todas as cordas, dá pra testar recolocando só a 6ª ou a 6ª e a 1ª.


Geralmente a espessura de um papel mais grosso, como o de um cartão ou de caixa de sucrilhos já é suficiente. Use a própria base do braço para delimitar.


Cortado e posicionado no tróculo

Observe que nesse caso, o problema era o braço angulado pra cima, deixando a altura das cordas na região próxima ao corpo muita alta em relação ao nut.



Aqui as duas possibilidades de posicionamento (é claro, ou uma ou outra). Usei lixa de papel.

Recoloque o braço e cheque novamente a altura. Como regra geral, a altura das cordas no último traste não deve ser maior que o dobro da altura no primeiro traste. Com essa relação, temos um bom equilíbrio de ação/tocabilidade/entonação.

Uma dica: não use a altura das cordas como referência para a espessura do calço. Como falei, raramente essa espessura passa de 1 mm. Inicie com um pedaço de papel de caixa de sucrilhos e aumente se necessário.

Um terceiro problema: eventualmente, um braço é muito alto ou baixo em relação ao tróculo. Isso acontece geralmente quando são de fábricas/marcas diferentes.
Veja nessas fotos: os saddles estão já colados na ponte e mesmo assim as cordas estão altas. O braço (ou o tróculo) tem pouca altura:



Nesse caso, temos que usar um calço (aí uma lâmina fina de madeira ou mesmo um cartão de plástico sem relevos) por toda a extensão do tróculo:


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Corrigir angulação é um trabalhinho meio chato porque dificilmente acertamos na primeira , mas quando funciona, funciona! :)

A seguir, uma sequência de 3 vídeos do youtube mostrando o processo:








Adendo: Como bem lembrado pelo Júnior, essa questão do ângulo do braço aparentemente era um problema constante para a Fender. Tanto que, no início dos anos 70, o Leo Fender introduziu (nessa época a Fender era da CBS e Leo trabalhava como "consultor técnico") um sistema patenteado chamado de "Tilt Neck" (ou "Micro Tilt Neck"). Veja a foto (guitarra atual):

Com uma pequena chave, após soltar um pouco os parafusos, ele permite regular a angulação. Na época, além dessa novidade, a Fender também passou a usar apenas 3 pontos de fixação e a ponta de ajuste do tensor era em forma de "bala/bullet":







Em 1981 a Fender retornou ao padrão original de 4 pontos de fixação, abandonou o tensor bullet mas ainda hoje mantém o ajuste de "micro tilt" em algumas guitarras. Esse sistema é bastante polêmico. Embora prático para ajuste do ângulo, muitos acham que ele diminui a transmissão da vibração do braço para o corpo. A minha Tele 68, clássica e com ajuste posterior do tensor, soa melhor do que a Tele 74, com tilt, bullet e 3 parafusos de fixação... Será que é por isso? :)





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