Anos Dourados da Fender: 1946-1970... 1970? - PARTE 2
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Anos Dourados da Fender: 1946-1970... 1970? - PARTE 2



Fábrica da Fender em 1946: 2 galpões



Fábrica da Fender em 1954: 4 blocos.


1954...Bons tempos :) Nesse ano (também do nascimento da stratocaster), Leo Fender contratou o engenheiro de produção/administrador Forrest White para organizar a produção. A demanda crescia constantemente mas a linha de produção ainda era amadora. O gerente da fábrica na época era, pela falta de um profissional específico, George Fullerton, o "braço direito faz-de-tudo-um-pouco" de Leo Fender.
Forrest White criou um sistema de produção eficiente, priorizando a qualidade. Alguns vícios antigos foram mantidos, mais em função da teimosia de George Fullerton (no livro do Forrest White está bem claro que eles não se davam bem).

Aqui uma foto de 1959, durante o teste de um novo amplificador. Da esquerda para direita: Freddie Tavares (engenheiro/projetista/músico), Forrest White e George Fullerton:

Um vídeo da fábrica da Fender em 1959:



Em 1964, a operação da Fender envolvia 600 empregados e 29 blocos! A produção era de cerca de 1.500 instrumentos/semana. Na foto ali de cima, de 1954, apenas 4 blocos e a produção era de 40 instrumentos/semana...

Se cresceu tanto, e a tendência, com a explosão do rock/pop com os Beatles e afins, era de aumento da demanda, por que a venda para a CBS (Columbia Broadcasting System Inc.)?

A principal razão, acredita-se, era o cansaço de Leo Fender (workaholic absoluto, é bom lembrar). Há citações que colocam-no como hipocondríaco, mas de fato ele estava sofrendo há anos com sinusite crônica e sentia sua saúde debilitada. Don Randall, seu sócio, saiu à caça de um comprador e fisgou um peixão: a gigante CBS ofereceu 13 milhões de dólares.
Em 5 de janeiro de 1965, a Fender oficialmente pertencia à CBS.

Obviamente, um monstro capitalista como a CBS não pagaria esse dinheiro à toa (foi a maior negociação da indústria musical até então). Pesquisou muito bem o mercado e descobriu que a demanda continuaria aumentando, portanto os lucros eram certos.

Essa pesquisa incluiu também uma investigação qualitativa do pessoal da linha de frente da Fender, incluindo o próprio Leo. Por incrível que pareça, num "pre-sale report", a CBS considerou que, dos principais cabeças da Fender, Leo, Don Randall, Freddie Tavares, George Fullerton e Forrest White, o único dispensável era o próprio LEO FENDER!!!.
Segundo o documento interno da CBS, "O Sr. Fender, ao contrário do Sr. Randall, não é essencial para a produção. Um competente engenheiro chefe pode facilmente substituí-lo e suprir as necessidades do mercado atual". Recomendava, entretanto, provavelmente com medo da fama e da genialidade de Leo Fender, mantê-lo como "consultor" por um período de 4 a cinco anos... Absurdo!

As cagadas da CBS começavam por aí - o cara é genioso? Só entrega um novo produto quando ELE está satisfeito? Isso só atrasa a produção - escanteio pra ele!
Em 1965, dos 28 principais postos administrativos da Fender/CBS, o cargo de Leo Fender era apenas o 18º na hierarquia. (Em 1967, depois de trocar de médicos, Leo conseguiu curar-se da sinusite crônica e sua saúde geral melhorou - a partir daí, não via a hora de acabar seu contrato com a CBS pra iniciar a Music Man - e depois a G&L)

Bem, continuando com a CBS, ela injetou muito dinheiro na modernização e ampliação da Fender.
Em 1966, já havia 9 blocos adicionais e um gigantesco bloco de produção sendo construído (ao fundo):

Fender/CBS: 1966

 
Segundo Don Randall, os lucros simplesmente dobraram no 1º ano da CBS.
É interessante a visão do Forrest White da CBS: "Eles tinham vice-presidente pra tudo... Eu acho que havia até um vice-presidente pra limpar os banheiros..."

Forrest White foi rebaixado para "gerente de produção para guitarras e amplificadores" e pediu demissão em 12/1966 após negar-se a assinar o início da produção dos novos amplificadores transistorizados Fender ("desenvolvidos pelos melhores engenheiros da época, mas que não sabiam nada de música"), que segundo ele, não mereciam o nome "Fender". Todo mundo sabe hoje que esses primeiros amplificadores eram horríveis e encalharam nas lojas. Tiveram que ser modificados e os valvulados aos poucos foram também reintroduzidos). Entretanto, ele relata que não houve alteração na qualidade das guitarras e baixos enquanto ele trabalhou lá.

Don Randall: "A CBS, pelo menos no início, tinha tanto interesse na qualidade quanto nós tínhamos". Demitiu-sem em 4/1969 e fundou a Randall Electric Instruments (vendida em 1987).
OBS: Don Randall merecia um livro só sobre ele. Sócio e verdadeira "eminência parda" de Leo. Sua importância na história da Fender pareia com a do próprio Leo.

George Fullerton: "Na época que sai da CBS, já haviam começado as reclamações  em relação aos instrumentos". Ele saiu em 1970, para trabalhar com Leo na Music Man

Dale Hyatt (já citado na parte 1), demitiu-se da CBS em 1972 e também foi trabalhar com Leo na G&L.

Portanto, apenas Freddie Tavares permaneceu na CBS e acabou sendo muito importante na renovação da Fender durante a década de 80 (ele faleceu em julho de 1990 e Leo Fender, em 1991).

Com exceção do Freddie Tavares (cuja função era ppte de projetista/designer e considerado por todos como uma pessoa muito agradável e que evitava confrontos) Dale Hyatt foi o último a pular do barco, em 1972. Ele fazia o link da fábrica com os vendedores, portanto era quem recebia as reclamações. Sua colocação: "A qualidade das guitarras manteve-se relativamente estável até 1968, caindo lentamente até 1970 e rapidamente à partir daí" Sintetiza todo o quadro. Em 1970 a CBS iniciou planos para uma nova fábrica com o intuito de duplicar a produção e aumentar os lucros. Enquanto a nova fábrica não ficava pronta, houve intensa pressão para aumento de produção. Em 1972 a Fender vendeu como nunca.
A nova fábrica, com área de 290.000 m² ficou pronta em 1974. Obviamente, não havia material humano qualificado o suficiente para abastecer um nova fábrica inteira, por mais moderna que fosse.

Taí... Somando esse post aqui com o da Fender nos anos 80, eu acho que dá pra saber, com boa dose de certeza, os piores anos da Fender: 1970-1983!

A CBS fez um monte de bobagens, mas talvez a mais exótica delas tenha ocorrido quando empregou novamente o ex-funcionário TADEO GOMEZ como vigia! Explico: Tadeo Gomez foi o cara que fez os melhores braços de stratos e teles na década de 50 (um braço com as iniciais "TG" é o sonho de consumo de qualquer colecionador).

OBS: A primeira parte desse post está aqui: Anos Dourados da Fender



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