"A Les Paul mais cara do mundo / Review: set Seymour Duncan "Greenie"
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"A Les Paul mais cara do mundo / Review: set Seymour Duncan "Greenie"



Paulo May/Oscar Isaka Jr.

"Greenie"

          Julho de 1966. Eric Clapton abandona a John Mayal & The Bluesbreakers logo após a gravação do seminal álbum "Blues Breakers with Eric Clapton", mais conhecido como "Beano". Não foi um disco de sucesso comercial - até porque era restrito ao blues - mas foi avassalador para vários guitarristas dá época. O som que Clapton obteve nesse disco, de sua Les Paul sunburst 1960 com PAFs e um amplificador Marshall no talo, foi o gatilho que disparou o (re)interesse pelas Les Paul (que não eram mais fabricadas pela Gibson desde 1961).


Billy Gibbons ouviu o disco e saiu correndo atrás de uma (e conseguiu uma fodona: Pearly Gates). Joe Perry, idem.

Enfim, Clapton foi embora e John Mayall precisava de alguém para a vaga de guitarrista. Ligou para Peter
Green, que topou na hora, mas assim que desligou o telefone pensou: "Putz, pra ter aquele timbre, preciso
de uma Les Paul". Peter Green foi até uma das maiores lojas de instrumentos de Londres, a Selmer's e comprou uma Les Paul sunburst 1959 por 110 libras (cerca de 2.500 dólares hoje em dia). Não gostou muito do braço, que parecia um "tronco de árvore", segundo suas próprias palavras.



Ele também percebeu que o captador do braço estava com problemas e mandou consertá-lo. O cara que fez o serviço (pode ter sido o próprio Peter Green, não se sabe ao certo) inadvertidamente inverteu a polaridade da barra de alnico e recolocou o captador com a bobina ativa ao contrário, virada para a ponte. Essa manobra errática gerou uma defasagem magnética (não elétrica) entre os dois captadores. Quando acionados juntos, surgia um timbre característico, com perda de graves e médios algo "tubulares". Esse timbre foi eternizado nas gravações de Green e Moore e hoje é um clássico.
Obs: Há várias versões dessa história, mas a própria Gibson cita Jol Dantzig: segundo o mestre luthier Jol Dantzig, que analisou profundamente a guitarra em 1984, o imã do captador do braço foi colocado invertido ("flipado") durante a fabricação, na Gibson. Peter Green achou que fazendo uma rotação de 180 graus resolveria o problema, mas ele deveria abrir o captador e girar o imã 150 graus no seu eixo longitudinal para realmente corrigi-lo. 

Porém, Peter Green tinha - e não sabia - uma esquizofrenia latente, que foi despertada pelas suas inúmeras viagens de LSD durante o período com sua própria banda, Fleetwood Mac. Numa dessas viagens, ele não voltou. Abandonou a música e tornou-se um recluso, morando com a mãe e o irmão, além de deixar seus cabelos e unhas crescerem a ponto de ficar irreconhecível.

Em meados de 1969, Gary More, então um guitarrista ainda em ascensão, fã de Peter Green e de Les Pauls, por acaso morava nas redondezas. Um dia ele foi até a casa de Peter Green (que havia acabado de abandonar o Fleetwood Mac), bateu na porta e perguntou se ele queria vender a sua Les Paul. Peter Green trocou-a por uma SG e algumas centenas de dólares. Negócio da china... :)


          Devido à dívidas inesperadas, (o esperto) Gary Moore vendeu a "Greenie" (como ele a chamava) em um leilão em 2006 por cerca de 1,2 milhões de dólares (oficialmente, 750.000 dólares). O comprador (Phil Winfield) a revendeu em seguida para o colecionador Melvyn Franks por algo acima disso, entre 1,5 e 2 milhões. Atualmente ela está sob a custódia do inglês Phil Morris e tem aparecido bastante para o público, como nesse vídeo onde ela é soberbamente demonstrada:


 (clique para ver o vídeo completo, sem edição)

A Gibson lançou clones dessa guitarra - é a "Collector's Choice #1" ou "Melvyn Franks". Me pergunto por
que raios deram o nome do colecionador e aparentemente foi porque Peter Green e Gary Moore não
autorizaram o uso de seus nomes...

Ao contrário do que se pensa, a Greenie foi pouco usada no famoso álbum "Still Got The Blues". Em 1988,
Gary comprou uma outra burst 59, sem saber (será?) que ela havia sido roubada do guitarrista Ronnie Montrose em 1972 (leia mais aqui). Essa 59 de Ronnie Montrose é a que ele mais usou em gravações à partir de 1988 e é de fato a guitarra utilizada no solo de "Still Got The Blues". Ela é mais aberta e estalada que as outras. Segundo Moore, na posição do meio chega a soar como uma "Fender".

Também a título de curiosidade, Moore aparentemente gostava de imbróglios legais. Foi acusado de plágio (e perdeu) da melodia do solo de "Still Got The Blues". O solo é claramente semelhante (harmonia incluída) ao da música "Nordrach" de 1974, da banda alemã  Jud's Gallery. Clique aqui para ouvir a música no youtube - o solo ocorre no tempo 6:15).




SEYMOUR DUNCAN CUSTOM SHOP: "GREENIE SET"



Mas estamos falando nesse tópico da Greenie e de sua famosa configuração de PAFs. Tão famosa que vários fabricantes fizeram cópias dos captadores dessa guitarra. No post passado fizemos um comparativo de vários PAFs e tinhamos a versão custom shop da Seymour Duncan para esse set chamado "Greenie". Fiquei tão positivamente surpreso com esse conjunto que resolvi mostrar as outras sonoridades desse set pra vocês.

Como falamos já no outro post os Greenie são réplicas de PAFs de 1959. O Jim Rolph já havia me alertado que eles não são os mais detalhados PAFs para som clean, mas que em situações de drive é onde eles realmente brilhavam. Bom, o Greenie não é exceção, seja no crunch ou com um pedal de drive mais forte, ele realmente brilha e reproduz os sons eternizados pela dupla Peter Green / Gary Moore.

Utilizei a minha R9 2003 com o set de Greenies instalado com o captador do braço devidamente invertido (como manda o figurino) para gravar as demos.



Os primeiros dois takes são repetições das gravações usadas na comparação dos PAFs que vc's já ouviram nos dois posts anteriores e os mesmos comentários aplicam-se aqui. O captador do braço tem uma resposta um pouco diferente, com mais ênfase nos médios e um pouco menos de estalo que os outros PAFs instalados na posição "certa", mas mantém vários dos atributos de um bom PAF. Esse maior enfoque nos médios faz com que ele cante com distorção e reproduza, com uma boa dose de fidelidade, o timbre talvez mais clássico de Gary Moore, na música "Still Got The Blues". Simulação de Marshall Clean no amplitube e o pedal "Ambassador" que é um clone do famoso Marshall Guv'Nor, um pouco de delay, uma Les Paul e os Greenies e voilà, temos o timbre!! :-) Gravei a intro no 3º take.

Outro som eternizado por Peter Green e copiado por muitos guitarristas posteriormente, é o som "fora de fase" causado pela inversão da polaridade do imã como já citado no post. No último take do áudio no vídeo, procuramos reproduzir um pouco do que é esse som característico eternizado por Green. Eu juro que sempre relutei em usar esse som, pois limpo perde volume, fica magro e sem corpo mas quando testei os Greenie com algun drive a compressão causada pela distorção me fizeram entender a razão de tantos guitarristas gostarem dele.  O mais legal é que você pode controlar o som nos botões de volume de ambos os captadores. Com ambos no máximo temos o som completamente fora de fase, mas diminuindo um ou outro podemos criar outras nuances totalmente utilizáveis desse mesmo som. Isso sem contar com os tones!

Os Greenies foram sem dúvida uma grata surpresa nessa maratona de testes dos PAFs e são uma excelente pedida para quem procura um som mais Blues/Rock clássico de LesPaul!

PS: Os Greenies estão disponíveis somente através da Custom Shop da Seymour Duncan. Quem quiser adquiri-los, pode acessar a loja On-Line da Seymour Custom Shop (Clique Aqui ) . Tem todas as informações sobre o captador e um botão de "Buy it now" que redireciona para a página de vendas.


PS2: O Fernando Daniel deu o toque e confirmou: a Greenie agora está nas mãos do Kirk Hammett do Metallica. Nesse vídeo que o Fernando encontrou, ele menciona que teve que vender algumas coisas de suas outras coleções pra comprar essa guitarra, mas tá feliz da vida com ela. Putz, quem não estaria? :)








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