A polêmica da posição do captador do braço.
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A polêmica da posição do captador do braço.


         Aproveitando a pergunta do Pedro no post anterior das KX e com alguns minutos sobrando nesse domingo, vou tentar explicar uma coisa que eu nem entendo muito: porque a posição do captador do braço em guitarras de 22 e 24 trastes é relevante para o seu timbre. Isso envolve um conhecimento/domínio de acústica e física em geral (como sempre! :) ), mas dá pra entender o princípio da coisa...

Antes disso, vou lembrar que a quantidade de trastes/casas não tem relação direta com o comprimento da escala. Escala é a medida que vai do (início do) nut até o meio do 12º traste. Esse valor então é dobrado e no final estarão os saddles/carrinhos da ponte. Portanto, a medida do nut até o 12º traste é igual à do 12º traste até o carrinho (usamos o ajuste de extensão dos saddles para afinar as oitavas). A escala "Fender" tem comprimento de 25.5 polegadas (64.77 cm). A Gibson é menor, com 24.75 polegadas (62.865 cm).

Se pego uma Strato e uma Les Paul, ambas com 22 trastes, o espaço entre os trastes da Gibson é menor, é claro. Mas se quisesse, poderia fazer um braço com mais trastes/casas e projetá-lo no corpo da guitarra em direção à ponte. Teoricamente, dá pra fazer um braço com trastes até ele chegar na ponte... :). Mas precisa haver espaço para colocar os captadores :).

E é essa a questão: quando comparamos uma PRS 22 com uma PRS 24, percebemos que a posição do captador do braço da PRS 22 (e Les Paul) é exatamente em cima do que seria o 24º traste. Se coloco 24 trastes, obviamente terei que mover esse captador mais para trás em direção à ponte. Acho que nem chega a dois centímetros, mas aí o timbre muda completamente. Por que?

Uma pausa visual para o post não ficar tão chato: a KX custom com 24 trastes e a Les Paul 81 com 22 - observe que na KX os captadores estão mais próximos (óbvio, mané! :) )




Continuando:
Quando uma corda vibra, ela emite uma frequência primária ou "fundamental" que é diretamente relacionada ao seu comprimento e tensão. A 5ª corda solta emite uma frequência primária de 440 Hertz, se diminuirmos seu comprimento pela metade (pressionando no 12º traste/casa) ela vai vibrar duas vezes mais rápido, gerando 880 Hertz. Além da frequência primária, a corda emite também frequências derivadas, os chamados "harmônicos", correspondentes aos diversos aspectos da vibração. Existem pontos onde a vibração é ampla e outros onde ela é nula/zero, os chamados "nós/nodes".

Aqui, uma ilustração da onda primária e dos seus primeiros 5 harmônicos:


O "nó" (zona morta) do terceiro harmônico está exatamente no ponto do 24º traste, ou seja exatamente no local do captador do braço das guitarras com 22 trastes. Esse é o argumento usado por caras como Ed Roman e John Johnson pra dizer que o som do captador do braço de guitarras de 22 trastes tem deficiência de pelo menos um harmônico importante (o 3º, no caso, mas na verdade ele está embaixo de 3 nós).
Ou seja, segundo o (polêmico) Ed Roman, a Gibson é burra e toda guitarra deveria ter 24 trastes. :)

Uma ótima dica do Fabiano me levou a esse artigo retirado do livro "Electric Guitar & Bass Design" de Leonardo Lospennato. Muito bom e bem mais sensato. Realmente, mesmo estando sob o nó de um harmônico, o captador - e principalmente o humbucker (2 bobinas: capta os sons de uma área mais ampla). ainda capta parte das vibrações próximas daquele harmônico.

Essa figura do Leonardo Lospennato é bem mais didática que a anterior. Ela mostra os primeiros 8 modos de vibração e o posicionamento dos captadores. Ele coloca muito bem: "É irrelevante ficar tentando evitar os nós ou encontrar determinado ponto das curvas. O que é matematicamente ou geometricamente perfeito não se traduzirá necessariamente num som "perfeito". Pequenas diferenças podem ser boas ou ruins, ou simplesmente "diferentes"."


Então, isso vai de encontro ao que eu já pensava. O que vale é o que se ouve e meus ouvidos me guiam. Até hoje, não ouvi um captador de braço em guitarras de 24 trastes que soasse bem (é gosto pessoal, só pra lembrar). Vivo isso na prática, pois tenho 2 guitarras com 24 trastes (tive uma Tagima Zero, mas aquilo lá é um absurdo... :) )
Falo de timbre orgânico, dinâmico - "wood tone" como dizem os americanos. Nessa posição, ouço sempre os médio-graves embolando. O timbre geral é seco e sem vida, com um certo "cancelamento de frequências", embora matematicamente isso não ocorra (será? :) ).

Essa é uma questão polêmica. Já li guitarrista falando que o som do captador do braço nas guitarras de 24 trastes é "mágico", perfeito. E também já li o contrário.

Portanto, mesmo com toda essa física (e polêmica), não sei ao certo a razão e nem esquento com isso, mas pra mim, o captador do braço em guitarras de 24 trastes soa pior do que nas de 22.

PS: O P-90 da KX5 tá soando muito bem. Por ser single, ele compensa a falta de definição que eu percebia com todos os humbuckers que tentei. O GFS Mean 90 de braço é mais grave do que eu pensava, mas mesmo assim, também trouxe mais definição pra KX Custom.



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