Luthier
Stratocaster "KNE" de Ash
(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)
Paulo May Apresento-lhes a minha nova strato de Ash. Linda e com timbre mortal :). Antes que algum incauto pergunte "KNE? Que marca é essa?", esclareço que "KNE" é o apelido dela, já que o corpo foi adquirido nessa luthieria/empresa (mais adiante).
Já falei tantas vezes que ia parar de montar guitarras, mas havia uma lacuna óbvia: ainda não tinha uma stratocaster de hard ash. Tenho duas maravilhosas de alder (já postadas aqui: a Black e a 97) e até uma de swamp ash (SX: clique), mas, devido à imprevisibilidade do ash, principalmente o hard ou northern, até agora tinha receio de arriscar.
A stratocaster com corpo de ash e braço de uma peça de maple é de fato o padrão original criado por Leo Fender em 1954 (o Alder só passou a ser utilizado e dominante depois de 1956), por isso eu precisava ter uma :). Pra saber mais sobre essas diferenças entre alder e ash, clique aqui para o vídeo da Fender onde o diretor de marketing e luthier, Mike Eldred, explica tudo.
Nesse vídeo, meu amigo (guitarrista e luthier) Alex Arroyo dá uma canja rápida pra vocês terem uma ideia do timbre (foi meio na correria então só temos os timbres do captador do braço e ponte):
O risco era grande, por isso optei pelo melhor (e com ótimos preços) fornecedor possível: a KNE guitars, da Califórnia. Essa dica me foi passada pelo Oscar em 2013 e já havia comprado um fantástico corpo de alder (duas peças, coladas fora do centro) deles. O Mitch, da KNE, é um cara muito legal, tem vários clientes no Brasil e sabe dos nossos impostos abusivos. Dessa vez não precisei passar pelo stress da receita federal porque o Oscar estava nos EUA e trouxe o corpo pra mim.
Pedi ao Mitch (ele é sempre solícito, mas não insista em pedir o headstock finalizado :) ) um hard ash mais leve (sim, hard ash pode pesar igual a uma pedra) e colagem central das duas peças, já que faria um acabamento sunburst de duas cores. A KNE seleciona e compra suas madeiras de ótimos fornecedores, alguns também utilizados pela própria Fender, portanto, nem preciso dizer que as madeiras são top. O padrão é 100% Fender, então não há erro: um braço também no padrão Fender vai encaixar como uma luva.
(
obs 01/2016: Convém acrescentar aqui que, embora seus produtos sejam de extrema qualidade, a KNE não é fornecedora autorizada/licenciada pela Fender. Mesma qualidade - senão melhor - , mesmo padrão, mas NÂO é Fender, ok? Depois desse post já vi gente vendendo corpos KNE no mercado livre dizendo que é licenciado...)
A junção corpo/braço é FUNDAMENTAL no timbre das guitarras: quanto mais contato, maior a transmissão sonora. O braço comprei via e-bay de um luthier canadense, também 100% padrão Fender, peça única (essencial: braços de maple com escala colada de maple soam diferentes) e quase "flame". Muito bonito e com acabamento (claro, também de nitrocelulose) na cor "vintage", que é um amarelo escuro, meio âmbar.
A minha ideia era montar uma strato nas especificações exatas da original de 1954, mas dois detalhes fui obrigado a deixar passar: pedi escala com raio de 9.5 polegadas (e não 7.25 como as dos anos 50 e 60) e coloquei saddles/carrinhos modernos, de aço. Também tomei a liberdade de utilizar um bloco de aço Manara nas especificações de uma ponte Wilkinson, ou seja, há um esperto deslocamento do ponto de entrada da primeira e quarta cordas pra manter todas as 6 com praticamente a mesma extensão/tensão pré saddles. Ideia genial do Trevor Wilkinson que o Leo Fender esqueceu de implementar. Veja:
Na foto de cima percebe-se também o ultrafino acabamento de nitrocelulose (dá pra sentir os veios do ash com os dedos) e o toque de flame do braço de maple.Tarraxas Gotoh Vintage, captadores: Fender Custom Shop 54 na ponte, Rosar Fullerton no meio e Rosar Fullerton (especial de formvar) no braço (esse é idêntico ao 54). Se fosse utilizar essa guitarra ao vivo em shows, provavelmente colocaria um Rosar Rock Surf 43 na ponte (ou um Blues 43), só pra garantir o corte de médios e evitar que amps ruins avacalhem com os agudos do CS54 (estão no limite).
A grande diferença entre essa e as minhas outras guitarras é que eu decidi não montá-la sozinho. Só montei guitarras até agora pra aprender e SABER, mas nunca tive muito saco pra isso. É cansativo e muitas vezes entediante, principalmente a parte de acabamento/pintura. Além disso, queria ter plena certeza que ela ficaria com máxima tocabilidade... Então deixei tudo nas hábeis mãos do meu amigo, professor e luthier Inaldo. Foi ótimo também porque vários trastes precisavam de retificação (provavelmente devido à viagem/temperaturas do Canadá/Brasil e o terrível tempo de espera pela liberação da receita no Brasil).
Todos os plásticos (de excelente qualidade e acabamento), canoa do jack e back plate foram comprados na China via e-bay/paypal.
O logotipo Fender com tinta metálica (idêntico ao original) comprei na CroxGuitars (Inglaterra): o Crox também é gente finíssima, conhece os brasileiros e envia os logos dentro de uma carta, portanto...
Pro acabamento ficar perfeito, utilizei "Tru-Oil" (Birchwood-Casey), que foi uma dica do meu amigo Vítor Tavares (que só monta e vende guitarra no padrão Fender - filezinho). O tru-oil é fantástico - utilizei o dedo pra espalhar e bastam 4 ou 5 demãos, lixa 600 de leve, mais uma ou duas demãos, uma passada da 600, depois 1200, polir e correr pro abraço! :). Tinha um cara vendendo 200 ml de tru-oil no ML dia desses, mas o meu comprei no e-bay. (Procure por "guitar + tru-oil" ou "tru-oil finish" no youtube antes de perguntar, por favor)
E o som dela? :) Tive muita, muita sorte. Aposto como vocês iriam babar e com certeza vou preparar algo depois, mas há um detalhe no meu gosto pessoal que é meio estranho: detesto ressonâncias graves ou "timbre gordo" e o ash é desgraçado nessas frequências - mesmo o "bom" ash pode sobrar nos graves. Já toquei em stratos e teles de ash americano que poderiam virar lenha. Quando o ash soa mal - e não dá pra saber antes de montar a guitarra - ele soa REALMENTE mal. Ao contrário do alder que via de regra soa quase sempre bem, o ash é 8 ou 80, não tem jeito...
Como não podia deixar de ser, percebi, com cordas 0.10, um pentelho de sobra de graves na 5ª e 6ª cordas - detalhe que muitos de vocês provavelmente adorariam, mas eu tenho alergia. Mesmo a minha excepcional Tele 68 (de hard ash) tem esse problema e eu o solucionei utilizando cordas 0.09 ou, as melhores que existem: um jogo GHS híbrido chamado "GBLXL": na ordem da primeira para a sexta: 10,13,15, 26, 32, 38. Começa com padrão 0.10 e acaba com padrão 0.08! É perfeito para telecaster e resolveu totalmente nessa stratocaster. :). Não há perda de graves, mas sim ganho de definição. Eu descobri esse encordoamento na década de 80, pois a minha Telecaster 74 soava do mesmo jeito que TODAS as minhas guitarras de ash (isso não ocorre na SX de swamp ash, que tem encordoamento 0.10).
Eu tinha alguns logos que eu mesmo fiz da Fender CS e coloquei pra ver como ficavam. Legal! :)
Pra quem não conhece o blog e tá chegando agora: eu só coloco os logotipos porque é tudo tão "Fender" que a ausência deles fica estranha... Essas guitarras são, se muito, réplicas e não cópias para serem vendidas. Se um dia alguém tentar vender essas guitarras como Fender, o blog estará aqui para desmenti-lo :)
O trabalho que o Inaldo fez nessa (e em várias outras já postadas) foi, como sempre, excepcional. Ele já conhece as minhas "bardas" de regulagem (ação baixa, ponte colada no corpo), fez um nut (perfeito) de osso e um acabamento soberbo de nitrocelulose. O alinhamento da ponte/corpo/braço eu nunca conseguiria fazer de forma tão exata/inteligente (depois ele mesmo vai explicar). São detalhes que somente quem nasceu com o dom pode fazer.
Optei por deixar os veios do ash bem aparentes - a Fender geralmente passa uma leve camada de verniz semi transparente ou âmbar/laranja por cima pra apagá-los um pouco.
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Próximo post: o "making off" dessa guitarra e de quebra, apresentarei pra vocês (finalmente) o Inaldo :)... Uma palhinha:
INALDO
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