Luthier
Castelli Strat Model
Oscar Jr.
O post de hoje é um tanto complicado de escrever. Quem nos acompanha sabe que somos meio (ahhahahahaha) puristas com relação a timbres e gostamos das coisas clássicas como elas foram originalmente concebidas No entanto, tanto eu como o Paulo temos nosso lado experimental e gostamos de explorar novos rumos, desde que a santíssima trindade (Strat/Tele/LesPaul) exista ! rsrsrs
Brincadeiras à parte, há mais ou menos dois anos fui à oficina da Castelli como de costume para bater um papo com o Tom (luthier Tom Castelli) e acho que comprar algumas peças quando ele me mostrou um bloco de peça única de Alder que ele tinha guardado. Conversamos um pouco mais sobre as diferenças de um corpo em peça única e etc... deixei pra lá e vim embora.
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Alder 1 Peça |
Meses mais tarde, numa mesma conversa ele me contou que estava começando a planejar uma linha própria de instrumentos e que os designs já estavam sendo feitos, me mostrando os desenhos do modelo Strato. O modelo seguia basicamente o padrão Fender, porém com algumas leves diferenças nas formas mas achei lindo e na hora me veio a imagem daquele bloco em peça única.. POOOTZZ era o que faltava pra minha GAS ir a mil e eu acordar com ele que faríamos a Strat. O preço na época ficava um pouco mais baixo que o de uma American Standard e como eu estava no mercado por uma BOA strat, fechamos.
Ok Oscar, mas uma Partscaster dessa que vc's montam não é a mesma coisa? Digo, não vai dar o mesmo som de Fender Strato que no final é o objetivo? A resposta é SIM e NÃO. Por que fazer uma guitarra Custom com um luthier de sua confiança? No meu caso, acho que um instrumento custom feito pra VOCÊ, onde você participa de todas as etapas desde as escolha das madeiras, etc., é uma experiência realmente muito legal e gratificante desde que o professional escolhido para o trabalho seja qualificado para tanto.
Com o Tom a gente participa de tudo. Ele discute e explica todas as opções e as escolhas são feitas em comum acordo sempre num service 100% customizado. Realmente não há 100% de certeza que o resultado final vai ficar bom, afinal madeira é madeira, mas é difícil uma guitarra BEM CONSTRUÍDA com madeiras bem secas e selecionadas soar morta. Quem já fez instrumentos com um BOM Luthier sabe do que eu estou falando, e mesmo eu sendo fã assumido de Fender, Gibson e todas as marcas famosas, tenho que admitir que um instrumento Custom pra VOCÊ é uma experiência diferenciada.
Uma Stratocaster não tem lá muito mistério na sua concepção, sendo o corpo de Alder, com braço em maple e escala de rosewood ou maple as combinações clássicas. Combinamos que manteríamos as madeiras mas do ponto de vista de construção, sempre existem detalhes que achamos que podem ser melhorados e implementados.
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Notem a quantidade de veios entre as peças |
Escolhemos o bloco de Maple (Hard Rock) para o braço, sempre optando pelo maior número de veios para dar mais resistência mecânica, e consequentemente transferência de vibrações. Há um ditado que diz que "
o timbre da guitarra nasce no braço e amplifica no corpo" mas sempre achei que o conjunto tem que estar "conversando" muito mais do que atribuir ao braço e/ou corpo a maior responsabilidade. Agora um braço bem construído e que não empene/torça é sempre bem vindo e pra isso o Hard Rock Maple ajuda muito. Abaixo os blocos que escolhemos, "Plain Sawn" para manter a característica clássica. :-)
Uma das modificações que o Tom faz em guitarra tipo Super Strat (Jackson Ibanez e etc) é a adição de 2 parafusos (aos 4 já presentes) por baixo do neck plate. Com mais dois parafusos puxando o braço contra o corpo, aumentamos a pressão de contato e consequentemente a transferência das vibrações do braço para o corpo. Com isso percebe-se um aumento do corpo do ataque das notas, que vem com um pouco mais de médio/graves. Já havia feito essa mod na minha finada Jackson e realmente o efeito é pra melhor, por isso o braço da Castelli Strat é fixado com 6 parafusos, mesma técnica usada pela Music Man. O Neck Plate de aço inox é para garantir que a pressão seja distribuída igualmente e o mesmo não afunde como acontece nos tradicionais de Zinco da Fender.
O braço é realmente a parte mais delicada do instrumento, pois está sujeito a empenos, torções e outros eventos que podem comprometer a tocabilidade. Visando aumentar a resistência do mesmo e deixá-lo menos susceptível aos efeitos do tempo, o Tom utiliza uma escala mais grossa nos seus braços. O Jacarandá é uma madeira bem dura e resistente e serve de reforço caso o maple se movimente com a tensão. É quase como implementar aquelas hastes de grafite que o Eddie Van Halen usa para reforçar os braços da EVH Wolfgang, mas na escala. Isso gasta mais madeira? Sim, especialmente o jacarandá que é caro e raro, mas segundo o Tom garante uma maior estabilidade do instrumento. Ele gosta de utilizar uma escala 2 mm mais grossa (7mm) que normalmente utilizado pela Fender (5mm).
O conceito é aproveitar a excelente resistência mecânica do jacarandá (baiano, comprado ainda nos anos 80 quando era legal) para ajudar na estabilidade do braço, diminuindo torções e empenamentos e segundo o próprio Tom, depois que começou a usar essa prática (também aplicada às outras escalas como de maple, ébano, etc.) na fabricação de seus braços, os empenamentos/torções mais acentuadas praticamente zeraram. A escala mais grossa de jacaranda parece acrescentar um pentelho de graves quando comparada às minhas outras Stratos, mas é difícil de quantificar com certeza se foi por isso ou algum outro fator no conjunto total. É o mesmo tipo de graves/complexidade que observo quando comparo um braço all maple com um com escala de Rosewood, por isso a minha "dedução", mas não dá pra afirmar com 100% de certeza.
Usamos trastes jumbo e escala 10" e decidi pela ponte Gotoh 510 SB, que é top de linha da marca com 2 pivôs para uso eventual da alavanca e, claro, "Steel Block".
Depois de pronta e montada passei uns meses testando alguns captadores e pude perceber como uma guitarra "nova" é meio mutante. Parece que com o passar do tempo, a vibração das cordas ao tocar vai fazendo algo com a madeira e o som... Sei lá, pode ser coisa de louco mas essa Strat demorou uns 6 meses pra "assentar" e ficar consistente na sonoridade. Já li em vários lugares relatos de que uma guitarra pode demorar até um ano para que a tinta cure totalmente, as partes vibrem de maneira consistente etc. No primeiro mês ela soava meio aguda e só depois começou a amaciar e soar como uma Strato deve.
Escolhemos para o acabamento uma finíssima camada de verniz PU translúcido laranja (eu queria o visual de uma Fender Custom Shop TransOrange ) com escudo Mint-Green com 3 camadas.
Nem preciso dizer que curti muito o resultado. O som é 95% tradicional, talvez um pouco mais (uns 10-20%) de corpo e profundidade nos graves e ataque (mais rápido/seco e presente) comparando ao que normalmente encontramos numa Fender Strato Standard, mas 100% com o DNA clássico. O corpo de apenas uma peça de Alder não pareceu ter adicionado muita coisa na receita além da estética, mas o grande diferencial pra mim é a pegada, já que o braço foi modelado passo a passo para a minha mão. Realmente uma guitarra que nunca mais sai da coleção! :-)
Quem quiser conhecer mais sobre o incrível trabalho da Castelli pode entrar no site www.dicastellis.com.br onde há muitas fotos e informação sobre a empresa que há mais de 25 anos constrói guitarras e baixos realizando sonhos de muita gente aqui em Curitiba.
Abaixo, um vídeo com sons da Castelli em duas configurações de captadores, o CBS 64 e os Vintage Noiseless do Sérgio Rosar. Gravei esses vídeos na época que ainda tinha a JR Guitar parts (que não existe mais). O amp é o meu Mesa Boogie Mark V. Dá pra sacar bem o DNA sonoro dela, mesmo com captadores tão diferentes!
Acredito que esse ano ou ano que vem a Castelli deverá lançar uma linha de série de guitarras que, segundo o que conversei com o Tom, vai seguir o shape básico dessa Strato e dos modelos do endorser André Hernandes. Já estou programando com ele uma entrevista nos moldes da que fizemos com o Sérgio Rosar. Vamos ver se vai dar certo!!
PS: Vale lembrar que este Blog não tem QUAISQUER afiliações comerciais com nenhuma das marcas aqui apresentadas. O que comentamos é 100% baseado nas nossas opiniões e experiências pessoais.
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