Perseguindo um timbre!! The "Mid Scoop Strat Tone" e o Sérgio Rosar CBS 64
Luthier

Perseguindo um timbre!! The "Mid Scoop Strat Tone" e o Sérgio Rosar CBS 64


Oscar Isaka Jr.

         Alguns amigos me perguntam como eu faço pra chegar nas conclusões sobre os equipamentos e etc. Da onde vc tira essas idéias? Da onde vc imagina que o bloco da Strato vai fazer essa diferença toda?
A resposta é que eu nunca imagino nada, rsrs, mas vou juntando pecinhas e tentando deduzir as coisas com base em muita pesquisa, em fóruns e tudo mais que você possa imaginar. Muitas vezes as conclusões não estão prontinhas lá pra você sair implementando. Muito teste e montagem de quebra cabeças tem que acontecer até que a gente entenda as variáveis de um timbre. Quem acompanha o blog sabe das nossas odisseias.

         Eu sempre fui um fanático em perseguir o timbre do John Mayer. O chamado timbre "Mid-Scoop (médios escavados)" (que de mid-scoop não tem nada rsrs) característico do DVD ao vivo "Where the Light Is" estão pra mim no top 3 de timbres de strato e eu queria a todo custo entender como ele conseguia aqueles sons cremosos com extrema definição e clareza. As stratocaster dos anos 60 têm esse DNA, mas o som que Mayer tira é diferente, tem uma cremosidade e equilíbrio, com ataque contundente e definido que a strato normalmente não mostra de maneira tão polida. Como? Mãos à obra!
         A primeira variável que vem em mente quando falamos de timbre são os captadores. Começando a ler sobre o assunto, a primeira informação que se acha é que ele usou por muito tempo uma strato SRV Signature com Texas Specials. Ok, faz até um certo sentido, uma vez que captadores um pouco mais "hot" de fio Enamel (como o TX Specials) tem agudos redondinhos e mais graves. O "problema" é que qualquer single com mais de 6.5k começa a desenvolver uma linha de médios que entopem o som e tiram o ar do timbre mais clean. Quem conhece o TX Specials sabe que ele é um ÓTIMO captador pra tocar com um Tube Screamer ou qualquer drive, mas ele tem médios estranhos, um pouco graves demais no clean, e ele soa qualquer coisa menos arejado e bonito nesse setup.

Depois de já ter pesquisado muito sobre construção de captadores, feito muitas experiências com o Sérgio e etc., a gente sabe que o fio Enamel tem uma característica menos aguda mesmo pois cria uma capacitância na bobina que 'limita' os agudos. Fez todo o sentido pegar meus TX Specials feitos de enamel e desenrolar algumas voltas, o que teoricamente removeria médios e graves e colocaria um pouco mais de agudos e brilho de volta .
O resultado foi legal, mas ainda não era aquilo que eu ouvia. Ainda faltava o ataque preciso e a dinâmica.


          Os captadores mantinham-se como o caminho mais óbvio pra mim já que tinha chegado perto com os "Texas Specials Underwound" e eu resolvi ir atrás dos captadores da Fender stratocaster John Mayer Signature. Descobri os famosos Big Dippers bombando nos fóruns gringos e no ebay sendo vendidos pela bagatela de U$ 450,00.
Fiquei com pena de pagar a quantia alta e fui pesquisar o que tinham, do que eram feitos e etc. pra saber se eram os principais responsáveis pelo timbre do nosso amigo. Descobri que o timbre que eu gostava veio depois do álbum Continuum (de onde saíram Gravity e outras) e ele já não estava usando mais a sua SRV. Fez sentido novamente, pois os sons do registro ao vivo "Any Given Thursday" bem anterior ao Continnum, são normais e eu ouvia o texas specials claramente. Bastante graves, e uma linha de médio agudos que chega a soar como um brilho cristalino quase vítrico (ressaltado pela escala de Pau-Ferro) dependendo do amp e regulagens. Ótimo para drives, mas é a razão pela qual os Texas Special geram relações de amor e ódio....
  
       
          Bem, de posse dessas informações e tudo mais, fui testar as coisas. Empunhei minha strato (Alder, Maple e Rosewood) com um set de Rosar Fullerton, meu Egnater Renegade no clean e toquei usando um Tube Screamer Clone como um boost (ganho baixo). Verifiquei que o pedal realmente deu uma diferença no som, atuando como um leve compressor e arredondando tudo. Os agudos não sobravam tanto, os graves ficaram bem redondinhos e o médios idem. O som veio cheio, bonito, detalhado,  mas ainda longe do som do nosso amigo Mayer.
Pensei: "lógico, eu quero fugir de médios e o Fullerton foi desenvolvido pensando justamente no ataque de médios"... Percebi que o captador tinha sim um papel importante naquilo tudo e comecei a experimentar. Tinha trocado alguns modelos sem sucesso (Seymour SSL-1, Fralin Blues Specials, Sérgio Rosar Blues, Sérgio Rosar Vintage Hot), quando consegui um set de (Fender) Custom Shop 69. Instalei já meio sem esperanças e quando liguei tudo o som que ouvi foi algo próximo do que eu esperava: Redondinho nos graves, médios meio ocos (olha o scoop mid aí...) e agudos bem comprimidinhos e percussivos.

Claro, como eu pude esquecer de um captador super popular da Fender que atendia aos requisitos que identifiquei lá no começo? Enamel, fraco, bobinamento regular, timbre anos 60. Tinha tudo pra soar melhor que meus Texas Specials desbobinados, obviamente!
Depois disso eles ficaram um bom tempo na minha guitarra e eu tocando e experimentando, sempre chegando nos 60% do som, mas algo ainda faltava. O timbre da posição 2 (caps meio e braço em paralelo) de Gravity ainda não estava lá. Cheguei a ler que os Big Dippers tinham sido inspirados numa Strato Vintage anos 60 que o Mayer tinha e que ele gostava muito, mas nada me dizia exatamente o que rolava... Era bem claro pra mim que a sonoridade era Fender 60's CBS, mas resolvi tirar o escorpião do bolso, aproveitar que uma amiga estava nos EUA e comprar os malditos Dippers (foto abaixo).


Deixei toda a parafernália de lado (por hora) e esperei chegarem. Quando os recebi pareciam um set de Texas Specials. Como eu imaginava, fio Plain Enamel e perto de 6K de resistência. Estava pronto pra me jogar do 10º andar se soassem igual aos Custom 69 ou os Texas desbobinados que eu tinha feito, mas não, UFA! rsrs.
Quando instalei-os na minha Strato o som veio diferente do que eu já havia ouvido nos últimos meses de pesquisa e busca. O ataque mais firme e percussivo, graves sequinhos mas bem presentes, e agudos redondinhos estavam todos lá. A clareza das notas e dinâmica também estavam presentes e de maneira nenhuma ele soava embolado. Mas qual a diferença dele pro Texas e pro Custom 69? Os médios!! :-) Mid-Scoop é uma percepção, pois no Big Dipper eles estão lá presentes, mas tunados numa faixa mais alta da EQ (médio agudo) que no Texas por exemplo e isso faz com que ele tenha o som gordo e redondo dos caps um pouco mais fortes sem o corpo de médio graves que faz com que esses soem mais fechados e entupidos. O som deles ligados no amp direto era um pouco mais próximo do que eu ouvia no CD e por isso os Dippers e a Fender John Mayer Signature são tão cobiçados. O som clean soa grande e presente, com muita dinâmica e ar, e o com drive é definido e firme também.
Claro, não temos a cristalinidade dos sons de Strato dos anos 50 (nem pense em Sultans of Swing com esses) mas pra sons de Blues com muita dinâmica, esse é o captador e o mais legal que obtive respostas semelhantes com praticamente qualquer amp valvulado.
Na mesma semana mandei pro Sérgio Rosar analisar tecnicamente e clonarmos os Dippers. Várias barreiras foram quebradas e técnicas descobertas nesse árduo processo, mas depois de uns 3 meses de testes e uns 8 protótipos chegamos no modelo final. Com algumas técnicas novas desenvolvidas durante o processo, o Sérgio conseguiu replicar as nuances dos Dippers usando o material moderno e acertou a curva de ressonância dos originais.  Nascia aqui o (Rosar) CBS 64.

 

A loja não está mais no ar e não tive tempo de editar o vídeo. A guitarra é uma Castelli ( www.dicastellis.com.br ) feita pelo meu amigo Tom com corpo de Alder, braço de maple e escala em Jacarandá. Uma Strato clássica!
         Os Big Dippers entregam o som com o DNA do timbre do Mayer prontinho, sem muita pestana com praticamente qualquer Strato de Alder/Maple/Rosewood plugada num amp valvulado com características Fender. Acredito que a Fender tenha pensado exatamente nisso quando desenvolveu os Big Dippers pra equipar a guitarra assinatura do Mayer (Acho que o que ELE MESMO usa é coisa diferente e molda tudo com pedais e amps, mas isso é pra um próximo post :-) ). Os CBS 64 do nosso estimado Sérgio Rosar alcançam o mesmo objetivo por uma fração do preço, além é claro de serem fabricados aqui em SC. Todas as pessoas que usam e/ou já usaram o CBS 64 ficaram extremamente satisfeitas com resultado. Não me canso de falar bem do Sérgio pois tendo trabalhado com ele tanto como lojista bem como desenvolvendo captadores, pude contemplar sua seriedade e competência para entregar nada menos que o melhor possível a seus clientes sempre procurando aprimorar e esculpir os pickups, por um preço justo!
Nós todos agradecemos!
Abraço!
Júnior



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