FAQ-002: Tingindo Plásticos
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FAQ-002: Tingindo Plásticos


Guitarra boa é sempre guitarra boa, independente do aspecto. Pode ser uma daquelas envelhecidas naturalmente, como a famosa e clássica tele "Micawber" do Keith Richards:

Pode ser uma ilustre desconhecida, como a do Jon spencer:

Ou uma toda reluzente e novinha em folha, sem nenhum arranhão.
O que eu não curto muito, esteticamente, é guitarra muito "relicada". Não sei, pouquíssimas me parecem realmente naturais. Principalmente essas "heavy relic", onde algumas tentativas ficam ridículas:

Até mesmo a Fender às vezes exagera e perde a mão. Aqui, uma "Time Machine" Custom Shop:

A Fender iniciou essa onda (e criou o nome "Relic", de relíquia) nos anos 90. Reza a lenda que Keith Richards encomendou cópias de suas amadas Telecasters e as devolveu com um bilhete: "Estão muito bonitas. Se vocês derem uma "gastada" nelas, eu as tocarei". Daí foi ladeira abaixo. Tom Murphy na Gibson aproveitou a onda e hoje ambas as empresas têm nas suas linhas "envelhecidas" as guitarras mais caras.

Por outro lado, não gosto de guitarras reluzentes, com metais ultra polidos e aquele acabamento grosso de poliuretano que reflete tudo.
Também não gosto do branco "OMO", pode até ser trauma de uma telecaster Finch branca muito ruim que tive há décadas e entre outras coisas, não afinava nunca e me dava choques elétricos... hahahá :). Fico feliz que tenham inventado o "Off White", que é o branco "não tão branco"

Por isso, sempre que pego um plástico branco, fico tentando deixá-lo um pouco mais escuro. Sempre que pego uma guitarra reluzente demais, passo uma lixa bem fina pra "cortar" o excesso. Idem para os cromados. A técnica atual de cromagem de metais (acho que) surgiu na década de 50/60 e só foi instituída nas peças de guitarras a partir dos anos 70. Anteriormente, os metais eram mais foscos e, na minha opinião, mais bonitos quando combinados com madeiras. O acabamento de poliuretano (PU) também iniciou-se só em meados da década de 60. Antes era só nitrocelulose ou "duco", que não brilhava tanto. Hoje, é tudo PU super polido e em grossas camadas, abafando a madeira..

Chega de papo retrô... Esse post é porque o pessoal demonstrou curiosidade sobre o método que uso pra tingir os plásticos. Já tentei várias coisas e tintas. Uma vez peguei uma "fórmula" num fórum que incluia, entre outras coisas, uísque e mostarda... E funcionou! :)

Mas um método mais simples é usando apenas corantes para tintas, aplicando-os diretamente no plástico. Aconteceu por acaso - tentei uma vez e saiu tudo após passar água. Mas no outro dia, por acidente, derramei um pouco na mesa e como não tinha água por perto, tentei limpar com um pano velho. Quanto mais eu esfregava, mais a tinta grudava. Depois tentei com água, mas daí a tinta já havia grudado... :)

Então, descobri que o princípio é esse - sujar bastante com a tinta e tentar limpar sem água. :) Quanto mais tentamos limpar, mais a sujeira/tinta gruda. É importante que o plástico seja previamente lixado - de maneira uniforme ou não (veja o porque na sequência) - pode ser uma lixa de grão 400 a 600 (obs: quanto mais alto o valor, mais fina é a lixa) 

Essas são as cores que uso (lojas de ferragens, tintas e utilidades, custam por volta de 4-5 reais cada):


Aqui o processo em dois escudos de telecaster. O da direita já é "off white", mas eu queria deixá-lo "mint green", um pouquinho esverdeado. Pinguei as gotas. Mais tarde vou acrescentar apenas 4 gotas de verde claro no da direita:

Aqui, já com um pedaço de pano (bem seco, não esqueça, tudo nessa etapa é sem água). Esfreguei bastante e com força, até secar e "travar" o pano. Tente literalmente "limpar a seco":

Faltou um pouquinho de amarelo... E esfregar novamente.

Depois de bem secos, são então lavados com água corrente. A água (continue esfregando aí também) retira mais de 80% da "mancha", mas o que queremos realmente são os 20, 10 ou 5% restantes...



O da esquerda "manchou" mais porque eu o lixei propositalmente de forma irregular. A sujeira irregular é essencial para um aspecto vintage. 
Agora, seque-os novamente, esfregando firme. O excesso de cor/manchas/sujeira é retirado com lixa e água. 


A relação de valores das lixas é importante. Se lixamos inicialmente com uma 400 e queremos tirar pouca coisa, podemos usar uma lixa de 800 ou 1200 (usei inicialmente uma 500 e depois 1200). Mas se o objetivo for apenas o de "cortar o branco", podemos usar uma com o mesmo valor ou um valor imediatamente acima. Lixamos levemente, de maneira uniforme ou não, dependendo do objetivo final. 

Na foto o da direita não parece tanto, mas ficou com um tom levemente esverdeado, exatamente como eu queria. O da esquerda, que deve ir para uma telecaster que será pintada em "Daphne Blue" ou "Surf Green" (ou Teal Green), pode ainda receber mais lixadas pra diminuir o amarelo - ou simplesmente acrescentar um pouco da cor "ocre" ou marrom. Prefiro esperar e decidir depois.
O legal é que podemos lixar, retirar tudo e tingir novamente :).
Nessa strato (postada anteriormente), o tom levemente amarelado/esverdeado do escudo ficou perfeito com o vermelho do corpo:

É claro que se alguém fizer isso e descobrir mais alguma dica, por favor, dê um toque - é obrigação! :)

______________________________________________

12/11/2011: O pessoal já está aplicando esse método e descobrindo novas opções/variações muito interessantes. Uma delas é a tinta a óleo - faz sentido porque o óleo "gruda" e mancha bem. Vou postá-las sempre que acrescentarem algo:

Duda Menezes: usei algumas Tintas Óleo , aquelas usadas para pintar quadros e tive um bom resultado. Marrom escuro , marron médio e amarelo .Usei o seu sistema para tirar excesso e ficou muito bom. Não ficou exagerado , ficou no ponto . 

Cesar: "Eu utilizei essa tecnica para tingir escudo e covers de captadores. Realmente é uma técnica fácil e q funciona, porém fiz algumas adaptações. Para mim funcionou mto bem com as peças molhadas, ficando assim mto mais fácil para espalhar a tinta mais homogeneamente. Pinguei algumas gotas do corante amarelo (meio mostarda) em um pano e apliquei em todo o escudo molhado, em seguida passei um pano seco, assim já ficou praticamente na cor que eu queria, levemente amarelado, sem excessos, bem homogêneo e natural, depois só lavei em água corrente e passei uma lixa 1200 bem de leve msm, o resultado me agradou bastante

Jean de Bethencourt:
1 - Lixar o escudo com lixa 600.
2 - Em seguida lixar com 1200, eliminado os riscos profundos. Lavar com água para remover o pó.
3 - Polir com Kaol ou Brasso.
4 - Pingar as gotas de corante 'à seco' (usei cor Ocre). Esfregar por toda superfície, até travar o pano.
5 - Polir novamente com Kaol para remover o excesso de tinta.

Resultado: Escudo fosco (matte), levemente amarelado, de forma homogênea, sem tinta acumulada em riscos profundos.



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