Onde está o Wally? - Fender Sonic Blue 60's
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Onde está o Wally? - Fender Sonic Blue 60's


          Com essa história da Tagima, além de outros pequenos perrengues com guitarras chinesas, ficou óbvio pra mim que o ideal, se eu não quiser gastar muito, é comprar tudo separadamente e montar eu mesmo.
Obviamente foi necessário adquirir conhecimento e sempre que aprendo algo, passo adiante aqui no blog.

Recentemente resolvi montar duas guitarras seguindo esse princípio. Sempre quis uma strato na cor "Sonic Blue" (tipo azul celeste). Pesquisei na internet, ppte no ML, e encontrei um corpo de Marupá por 200 reais (na loja virtual do Érico Malagoli - captadores.com.br). A primeira lei de Murphy pegou pesado: o corpo chegou com uma rachadura que ia do tróculo (pior lugar possível) até quase a metade... Bem, depois eu conto essa história, mas o objetivo era o post - colei com Superciano e comecei o trabalho. Queria exercitar o processo de envelhecimento artificial (Relic), pois já havia conseguido bons resultados anteriormente e dessa vez a ideia era competir com a Fender - não quero passar por pretencioso, mas já vi alguns relics muito ruins deles. A maioria entretanto, é muito bem feita.

Seguem várias fotos de stratos Fender Custom Shop Relic, custando entre 2.500 e 4.500 dólares. No meio delas está a minha (que custou no máximo 450 reais) e uma original, de 1964 (essa obviamente, custa uma fortuna).

Vamos ver quem mata a charada e encontra o Wally de marupá e... Qual será a original de 1964?
Ao posicionar o mouse sobre a foto, o nome (com identificação) dela vai aparecer no link lá embaixo - por favor, não olhe! :)
(Quem conhece bem o blog vai descobrir qual é a minha por um detalhe pessoal, mas tô contando com a distração de vocês :) )








São 6 guitarras - ao dar sua opinião, considere uma numeração, de cima para baixo, de 1 a 6.
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13/03/2013:

         Já que a maioria acertou - e alguns com muita propriedade e conhecimento de causa - vamos lá:
A minha é a 6... Claro, a indefectível ausência do primeiro botão me entregou legal... O Petri percebeu que as bordas deveriam ser mais arredondadas (preguiça minha). O Rodrigo tá correto, esse "Azul Celeste" da Resicolor bate mais com o "Daphne Blue":
O Fernando lembrou bem a questão do tensor - todas teriam que ter acesso por trás. E a Thaís (bem vinda ao blog - já tava achando que isso aqui era o clube do Bolinha :) ) foi esperta ao chamar a atenção para o padrão dos parafusos - só faltou organizar as datas :)
Alguns detalhes técnicos/históricos:
Assim, aquela com braço de maple e escudo single layer com 8 parafusos (imagem 4: Custom Shop 56 Heavy Relic: 4.000 Euros) é uma impossibilidade histórica.
A guitarra real de 1964 é a "5", mas o escudo deveria ser mais amarelado ou esverdeado (detalhe também percebido pelo Rodrigo). Até o final de 1964, as 3 camadas eram de celulóide, que não tinha esse aspecto branco "OMO". Conjecturo que talvez ela seja do final de 64 e a Fender já havia iniciado o uso do ABS/Vinil. Ou o dono trocou o escudo em algum momento depois de 1964.

Interessante ressaltar que a maioria das sonic blue originais da década de 60 que pesquisei tinham paradoxalmente pouco "relic".
Mas aqui tem uma foto da Sonic Blue 1961 de Ike Turner (a foto é dos anos sessenta também) já bem "baleada". Coitada da guitarra - apanhou mais do que a Tina Turner :)

Achei linda a relic "3" (Custom Shop: 4.600 dólares) e horrível a "2" (também Custom Shop: 3640 dólares). Lixar as bordas e deixá-las com esse aspecto regular e com pouca randomização não é relicagem. Parece coisa de amador.
Deixo bem claro que pra mim, fazendo em casa, sem politriz e com spray em lata, é mais fácil o acabamento "relic" que o ultra brilhante e perfeito. Não sou nem muito fã de relicagem, por sinal.

Bem, voltando à strato "classe econômica", ela é hardtail. O corpo não tem a cavidade para o tremolo. Melhor assim, já que a madeira é Marupá. A idéia era fazer uma coisa bem caseira no acabamento do corpo, por isso usei uma lata de tinta à óleo Resicolor "Azul Celeste" e um rolinho de lã (espuma não é bom):

 Nunca pintei com rolo antes (nem parede), mas no processo descobri que é melhor diluir um pouco mais (escorre mais, mas dá pra controlar se prestarmos atenção, ppte nas bordas inferiores) nas primeiras demãos. Acho que foram umas 4 ou 5 passadas com algumas horas de intervalo.

O corpo veio rachado e eu não estava botando muita fé nessa ideia, então não anotei os detalhes do processo, mas é basicamente tinta com rolo, lixa 360 e 600, relicagem - aí usei até cinza de cigarro + corantes amarelo e ocre + óleos+ pó, verniz, lixada irregular e aleatória, mais relic e corante amarelo, verniz novamente, lixas 600 e 1200 com passadas uniformes e um leve polimento final com Grand Prix automotiva. A parte do rolo é meio demorada por causa da tempo de secagem. E olhe que eu procurei tinta spray "azul celeste" - pqp!
Poderia ter misturado um pouco de branco para o azul ficar mais "Sonic" e menos "Daphne". Preguiça de voltar na loja :)


O braço é de uma RX20 (headstock modificado), extremamente confortável com trastes bem nivelados e frequência de ressonância em Ré (D3), que é baixa, mais grave. O corpo estava bem seco e mais agudo que o esperado do Marupá, por isso os dois fecharam bem no timbre final. Coloquei tarraxas chinesas com trava (sim com trava) recentemente compradas no ebay  por 17 dólares (não as recomendo - muito rudimentares). A ponte é uma hardtail Condor. Os saddles são de zinco mas vou colocar de aço, pois o timbre dessa guitarra me agradou demais. O Marupá é relativamente claro e articulado, com mais médios-graves que o alder e até o ash. Soa mais "na frente" e mais forte. A ausência da ponte - elemento crucial da sonoridade strato - torna o timbre algo híbrido de strato e tele. Captadores do braço e meio são Rosar Fullerton (timbre entre o Fender CS 54 e CS 57). O da ponte, um Rosar Custom com 6,7k e fio enamel 42 - cara de Telecaster! :)

A sonoridade dela foi uma surpresa muito agradável, tanto que vai receber tarraxas mais decentes e carrinhos de aço :)

E o corpo rachado?
Chegou assim:
Putz! Mandei e-mail para o Érico Malagoli, que redirecionou para o fabricante (não vou colocar o link agora), muito educado e cordato, que ficou de enviar um outro mas, por alguma razão que me foge à razão, não fez mais contato. Let it be.

Podem falar o que quiserem dos chineses, mas até hoje recebi tudo que comprei deles conforme descrito nos anúncios. Já aqui no Brasil...

PS: E, é claro, depois disso tudo, essa guitarra já tem um nome: Wally. E sobrenome:"Wally de Marupá" KKKK!!





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