Construindo Referências. Em Busca do Cálice Sagrado (Parte 4)
Luthier

Construindo Referências. Em Busca do Cálice Sagrado (Parte 4)


Oscar Isaka Jr.



         Antes do mergulho final nessa saga da "Busca do Cálice Sagrado", sinto que preciso fazer uma breve revisão justificativa, um breve "pit stop": preciso contar como criei minha referência de timbre de Les Paul.

         Desde que eu comecei a me enfiar no mundo dos timbres o som da Les Paul me encanta. Na verdade o som, o visual, a classe, as referências, os mistérios e histórias ao longo dos seus mais de 50 anos de existência. Mas qual seria o verdadeiro som de uma Burst dos anos 60 eternizado em tantos discos por Clapton, Gary Moore e etc? Sempre imaginei um DNA sonoro, e pensei que o reconheceria assim que ouvisse. Eu estava certo (como vamos ver mais tarde.. rs), mas não seria assim tão fácil. Quem já gravou sabe que o som de uma guitarra plugada no amp ao vivo gera uma percepção diferente quando escutamos a mesma combinação na gravação. Especialmente após compressão, o fato de cada musico ter seu gosto, sua pegada (claro que eu nunca soaria como o Bonamassa) me diziam que durante a jornada na busca por uma Les Paul mágica eu teria que achar minhas próprias referências.

Tive várias Les Paul de vários modelos e marcas (algumas mais graves, outras mais mortas, outras agudinhas, etc) antes de ter minha primeira Gibson, uma Traditional 2009 que escolhi a dedo dentre várias da loja.

Depois de vários upgrades de captadores, ponte, capacitores e etc. pra mim ela era o Holy Grail do timbre. Soava definida e "snappy" no braço com um timbre que rosnava nos médios e tinha um equilíbrio muito legal em todo o espectro de frequências. Era uma ótima guitarra, mas algo faltava e eu não sabia dizer o que era. Pensei que era nóia minha, tanto que fiquei com ela como minha referência por uns 2 anos e a maioria das outras Gibson que eu tocava soava inferior a ela pro meu gosto de timbre. Ou eram muito graves numa geral, embolando o timbre todo, ou muito rápidas e "rockeiras" como a Traditional 1960 que tive depois dela que o Paulo postou aqui comparando com a 81 e a AFD. Ainda não estava convencido 100% do que eu realmente queria ouvir sair do amp, e alguma coisa na minha equação não estava batendo. Cheguei até a testar nesse meio tempo duas Gibson Historic Custom Shop aqui em Curitiba, sendo uma 59 e outra 58 e nenhuma delas me impressionou muito - cheguei a pensar que minha Traditional era quase o mais perto que eu poderia chegar do som de Les Paul que estava na minha cabeça.

Ta bom Oscar, mas o que é esse som?

Antes de eu tentar descrevê-lo, ouça "Brown Sugar do primeiro disco do ZZ Top:


Pearly Gates em ação é o exemplo referência para mim e 95% dos amantes de Les Paul.

Em seguida, um vídeo feito pelo Throbak ( http://www.throbak.com/), com um PAF original numa LP R7:

Esse foi o vídeo responsável por me encantar pelo timbre Les Paul e PAF...

         Como descrever esse som? Muitas palavras me vem à mente, mas eu consigo ouvir uma complexidade única nesse DNA. É possível ouvir o ataque preciso e definido que muda para uma ressonância dupla onde quase ouvimos 2 timbres separados por uma linha de médios vocais que lembra um saxofone, com uma rouquidão e dinâmica inigualáveis. Quanta palavra difícil e bonita pra descrever um timbre, mas é exatamente por aí.
Os especialistas malucos da Tone Quest report chegaram a conclusão que 60% desse som mágico vem dos PAFs e os outros 40% são da guitarra. Como os PAFs nós já tínhamos (os Rolphs), teríamos que encontrar uma guitarra que falasse à altura.

Minha Traditional chegava em algo assim, mas não com a profundidade e complexidade que gera todos esses adjetivos. Ela soava clara e bonita sim, mas ao mesmo tempo seca e unidimensional perto desses sons.

Depois de 3 anos tocando em Les Pauls de amigos e tunando a minha já estava quase conformado que não conseguiria chegar no som mágico sem comprar um PAF real ou uma Burst mesmo, até que um conhecido meu comentou: "Um amigo meu tá vendendo a Gibson dele, tá afim? Ele disse que é uma 59 ou algo assim...", claro que me mostrei interessado e depois de umas ligações combinamos que eu iria ver a guitarra.

O instrumento em questão era uma Gibson Custom Shop LesPaul Standard 1959 Reissue fabricada em 2003 em Cherry Sunburst. Estava em boa condição mas tinha claramente sido tocada durante seus 10 anos de vida o que pra mim é ótimo. Estava meio besta ainda com a guitarra quando pluguei no Rockerverb que o antigo dono tinha e logo na primeira nota constatei que eu estava certo desde o início! :-)


Negociei o preço e por mais ou menos a média de uma Gibson USA Les Paul Std no Mercado Brasileiro eu trouxe minha R9 pra casa! :-)

Assim, com o timbre mágico da Les Paul clássica ilustrado, dá pra vocês terem uma ideia de porque chamamos essa procura por uma Les Paul excepcional de "saga" :)

De saideira, uma fantástica demonstração da Les Paul 59 que já foi do Peter Green e Gary Moore. Timbraço! Para maiores informações sobre a guitarra, acesse o site da Guitar Interactive Magazine



Em 2 ou 3 dias postaremos a parte final da saga "Em busca do Cálice Sagrado"...




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