Luthier
Dallas Guitar Show 2013 - Em busca do Cálice Sagrado (Parte 3)
Oscar Isaka Jr.
Enquanto estava planejando a minha viagem aos EUA, dei uma vasculhada nos eventos da região pra ver se algo coincidia e me deparei com a feliz notícia que o Dallas International Guitar Festival iria acontecer em um dos finais de semana que estaria em terras americanas. Não hesitei e fiz planos pra visitar Dallas (apenas 3 horas de viagem de carro de Austin) e o festival, já imaginando que tipo de surpresas me aguardavam num evento desses.
Pesquisei um pouco sobre esse festival em fóruns gringos e todos diziam que era muito bacana, muitos instrumentos expostos (stand da PRS, Gibson Bus, etc.) bastante opção para negócios e cheio de shows e artistas (Andy Timmons no último dia). Pensei: "Ok, vamos baixar um pouco a expectativa tupiniquim e ver o evento", mas confesso que estava numa ansiedade danada de ver uma Gibson Les Paul Standard Sunburst dos anos 50 ! Se eu não conseguisse num festival desses, não sei onde mais conseguiria! :-)
Chegando ao evento no primeiro dia, eu parecia uma criança na fábrica do Willy Wonka. Imaginem um galpão do tamanho de um hipermercado (desses grandes mesmo) LOTADO de stands com guitarras.
Meu plano era ir andando entre os corredores sem pressa, olhar tudo numa primeira andada e depois voltar onde achasse que seria mais interessante. Mas o problema é que TUDO era interessante! Nas fotos que seguem, uma ideia mínima da coisa:
Sim, um TrainWreck Climax!
Gibsons no stand da Fuller's Vintage Guitar
(Ace Frehley Budokan ao centro e Joe Perry à direita)
Tinha até caminhão lá dentro! :)
Um leilão seria realizado no sábado e eis a primeira Burst que vi na minha vida. 1960 100% original. Foi leiloada por USD 125.000,00 nessa mesma noite...
Les Paul 1960 original
Vários instrumentos também constavam no leilão, como essa Les Paul 1958 e os dois itens Fender atrás:
Vi guitarras que eram verdadeiras obras de arte com marcações e pinturas realmente impressionantes. Até as "Crash"que ficaram famosas nas mãos de Eric Clapton ganharam seus devidos tributos:
Guitarras Zemaitis - sempre lindas!
E finalmente os instrumentos Vintage começam a aparecer. Stratos, Teles, 335 e, claro que elas tinham que dar o ar da graça, Les Pauls!
Primeira surpresa de sábado: bem no final do salão principal havia um stand cheio de captadores em caixinhas pretas numa pequena mesa. Captadores exercem uma força de atração sobre o japonês aqui então é claro que tive que ver o que era e encontrei essa simpática senhora correndo de um lado para o outro no stand usando óculos no mínimo sugestivos para o evento. Chegando mais próximo, confirmei minhas suspeitas. Essa senhora era nada menos que Maricela Juarez em pessoa e o stand era o da Seymour Duncan Custom Shop.
Maricela Juarez e Oscar Isaka Jr.
Sempre gostei de testar captadores de diversas marcas e modelos e especialmente depois que comecei a estudar os PAFs, minha curiosidade pelas variáveis que captam nosso timbre só aumentou.
MJ é conhecida como "
The Mojo Queen" pelos amantes dos timbres e é uma lenda viva tanto quanto o próprio Seymour quando o assunto é captadores. Das mãos dela saíram os captadores que equipam guitarras de ícones como Jimmy Page, Jeff Beck, David Gilmour, Billy Gibbons, entre outros projetos como o último Frankenstein Humbucker que equipou as caríssimas réplicas da famosa guitarra de Eddie Van Halen e o mais novo e ambicioso lançamento da Seymour Duncan: As réplicas dos PAFs da Les Paul 1959 de Joe Bonamassa (mais sobre isso ).
Trocando em miúdos, Maricela é o braço direito do velho Seymour e gerente geral da Seymour Duncan Custom Shop.
Passei algumas horas olhando os captadores expostos e conversando com MJ e seus assessores sobre os modelos e, claro, acabei trazendo alguns pra mim.
Farei reviews deles aqui no Blog mais pra frente, mas vou adiantar o seguinte: conheço e já testei pelo menos 80% da linha de produtos da Seymour Duncan, mas os captadores da Custom Shop são algo diferenciado. MJ Sabe o que faz quando o assunto é timbre, além de ser a simpatia em pessoa!
Um fato que me chamou atenção foi o de que nem todas as pessoas que paravam para ver os captadores conheciam a Seymour Duncan. Pasmem, mas parece que eles são mais famosos aqui no Brasil do que no próprio território americano...
Começa domingo, segundo dia do festival. Nesse dia estava determinado a olhar as coisas com calma e tentar tocar de uma vez por todas numa das Les Paul vintage que tinha visto expostas. No sábado havia tocado em algumas re-edições de diversos anos mas nenhuma real ainda. Queria poder confrontar as referências sonoras que estavam na minha cabeça com a coisa real, já que tinha visto pelo menos 5-6 originais em seus cases no primeiro dia, sem poder plugá-las.
Quando voltei ao stand onde tinha vista 3 lindas "Burst" uma ao lado da outra no dia anterior (uma 58, outra 59 e uma 60 - foto acima) todas com seus devidos nomes, prestei mais atenção e as iniciais TW59 no topo do mesmo me pareceram familiares. Já tinha visto aquilo em algum lugar...
Pois é, foi nisso que vi um cidadão com um case Gibson Lifton (aquele marrom da custom shop) vindo na minha direção para falar com um senhor grisalho que estava tomando um café bem ao meu lado.
Observando, dei um passo atrás e o rapaz com o case o apoiou uma cadeira à minha frente e disse (traduzido): "Tom, eu trouxe a Sandy, vc poderia autografá-la por favor? ". Minhas suspeitas estavam certas, as as iniciais TW59 se referiam a ninguém menos que Tom Wittrock, o lendário colecionador de Bursts com mais de 20 em sua coleção.
Pra vocês terem uma ideia da importância desse sujeito, ano passado a Gibson Custom Shop deu início a um programa chamado "Collectors Choice", onde seriam eleitas e reproduzidas nos mínimos detalhes Les Pauls icônicas, pertencentes à colecionadores famosos, que ainda estivessem disponíveis hoje para análise. Para a edição de número 4 (Clique aqui) foi escolhida a "Sandy", uma Gibson Les Paul Standard 1959 que pertence a Tom Wittrock.
Durante um papo agradável com Tom (muito solícito e gente fina), conversamos sobre Bursts, sobre "Sandy" e como a Gibson tinha conseguido replicar 100% a guitarra (a ponto dele não conseguir distinguir a original das cópias num teste cego), sonoridade PAF (e como os 57 Classics da Gibson não têm nada a ver com PAFs....), entre outras coisas de Les Paul maníacos, até que ele mencionou que ficaria feliz em me deixar tocar com uma de suas Burst se tivesse alguma maneira conveniente de plugá-las no festival, o que infelizmente não tinha. Cheguei perto mas não foi dessa vez que ouvi uma Burst de verdade pessoalmente. Mais uma grande experiência que tive com uma lenda do mundo das guitarras.
Tom Wittrock e Oscar Isaka Jr.
Depois de ver bastante instrumentos e alguns shows e clinicas, era chegada a hora de assistir Andy Timmons. Me dirigi ao palco principal do evento do lado de fora do pavilhão e esperei um pouco. Mr Timmons apareceu no backstage e começou a se preparar para o show ajustando sua pedaleira e cumprimentando o povo enquanto os roadies ajustavam seu stack de Mesa Boogies. O show foi espetacular e é realmente incrível ouvir Timmons tocando ao vivo com o mesmo timbre e pegada que escutamos no CD.
Andy Timmons
Electric Gypsy deu fim ao Dallas Guitar Show e a um final de semana de muitas guitarras, experiências e diversão. Foi uma pena não ter conseguido tocar nas Burst depois de ter chegado tão perto, mas pude mais uma vez expandir as referências, conversar com lendas do timbre e me divertir um bocado.
Valeu a pena!!
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PS: Quando o Oscar estava fazendo o post, combinamos de eu acrescentar alguma coisa sobre o mercado (meio underground mas extremamente ativo) especializado de Les Paul (e outras) vintage. Nesse universo, onde fortunas e bursts raríssimas trocam de mãos (algumas de astros do cinema e milionários não menos famosos), muito bem descrito no livro "Million Dollar Les Paul", de Tony Bacon, Tom Wittrock é uma autoridade e referência.
Mas resolvi deixar esse assunto para um post em separado, mais pra frente, pois aqui tem assunto de sobra pra discutir... :)
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