Em busca do Cálice Sagrado - Epílogo: "Aqui só entra Les Paul!"
Luthier

Em busca do Cálice Sagrado - Epílogo: "Aqui só entra Les Paul!"


       

Paulo May

         E a dita cuja, o nosso suposto "Cálice Sagrado", finalmente chegou. Veio de Miami, trazida pelo meu grande (e de longa data, desde os tempos de surf) amigo Alencar Silvestre, aqui de Florianópolis.

Meu aniversário foi no dia 26 de julho e combinei com o Oscar e outro amigo nosso em comum, o Rodrigo Rassele, de Itajaí, de comemorarmos tudo ao mesmo tempo no sábado, dia 27.

O Rodrigo é outro "Louco por Guitarra", mas daqueles espertos, que só pega os filezinhos: tem uma LP Custom Shop Beano/Eric Clapton, uma strato Fender CS Rory Gallagher e uma Telecaster Fender CS Relic, entre outras pérolas. Combinamos de fazer um festival de Les Paul: o Oscar traria a R9 2003 dele (a R8 não coube no carro lotado), o Rodrigo traria sua Beano, uma Standard 2009, uma Deluxe 1973 toda original e uma R7 de um amigo de Itajaí. Acrescente a minha tão esperada  R9 2013 e a Standard 1981 e teríamos uma festinha de arromba, com sete Les Pauls diferentes!! :)

Obs: Pra quem ainda não sabe, a nomenclatura Gibson: "R", significa "Reissue/Relançamento" e o número do lado refere-se ao ano do qual ela é copiada: 9: 1959, 8: 1958, 0: 1960, etc. Portanto, "R9" quer dizer "Relançamento de 1959". A "Beano" é tecnicamente uma "R0".

Uma visão geral da coisa toda:


Em cima, as burst. Da esquerda para a direita: R9 2013, Standard 2008, Beano/R0 2010, R9 2003
Embaixo, as goldtop, da esquerda para direita: Deluxe 1973, R7 2006, Standard 1981.

A gente não sabia se olhava, conversava, tocava, bebia.. Pra mim foi ainda mais complicado porque eu havia pegado a minha R9 naquela tarde. De fato, o Rodrigo e o Júnior chegaram no meu apto junto com a guitarra!
Enfim, isso era coisa para um final de semana inteiro - uma noite apenas não deu nem pra começar. E a nossa ideia inicial era fazer um "roundup", uma comparação de todas, com gravações, filmagens e fotos detalhadas. Imaginem se deu certo!! KKK! Nem pensar! Conseguimos fazer algumas gravações rápidas no final, apenas comparando o captador do braço de todas elas (mas isso é assunto pra outro post).

Imaginem 3 loucos por guitarra trancados numa sala com sete Les Pauls (isso sem falar nas minhas outras 34 guitarras que estavam por perto!), vinho à vontade e quilômetros de papo pra colocar em dia. Ficamos que nem crianças hiperativas no meio da Disneylândia! KKK!


Pedi para o Oscar e o Rodrigo inserirem aqui um resumo dos comentários deles, mas como o assunto é Les Paul, o "resumo" que eles enviaram é bem mais que isso :) ... Bem, como o pessoal que navega por aqui é geralmente também fissurado por guitarras, acho que não me perdoariam se omitisse algo, então vou transcrevê-los na íntegra (o meu comentário agora parece espartano demais, rsrs):



Paulo May:
 "O importante é que todas soaram legais, cada uma à sua maneira. Mas as R9 e a Beano têm claramente maior complexidade no timbre. Não é à toa que são "Custom Shop". A R7 não pôde ser avaliada mais profundamente, mas eu acredito que com uma troca de captadores - um par de Rolphs, por exemplo - ela poderia arrasar. A minha Standard 81 é um caso à parte - uma Les Paul que soa mais "Fender" do que muitas Fender por aí. O braço de maple/rosewood é o responsável por isso, provavelmente :).

A Beano já vem pronta, com um braço daqueles que eu já rezei pra uma Les Paul ter e o "Woman Tone" do Clapton no período Bluesbrakers: é só plugar (de preferência num Marshall, rsrs) e sair para o abraço. A R9 2003 do Oscar é magnífica - nota 11 numa escala de 10, além de ter o top com o flame mais bonito entre as burst. A minha R9 ainda estava com os captadores Custom Bucker e cordas Gibson - só pude ouvi-la em sua plenitude ( e que plenitude) depois que coloquei os Rolph 58 e os bumblebees vintage originais. A Deluxe 73, toda original, é uma senhora de 40 anos e mereceu todo o nosso respeito. Corpo "pancake" comum da época, relic real e um braço bastante fino para uma Les Paul, muito interessante...

Como curiosidade, nós tínhamos duas guitarras entre as sete que representam os dois extremos da "sonoridade Les Paul": a minha Standard 81 e a Beano do Rodrigo.

No final, após ter tocado todas, exceto a 81 que nós 3 já conhecíamos, eu pessoalmente considerei a R3 do Oscar a com melhor sonoridade, mas tive que dar um desconto pois era a única que estava com os magníficos captadores do Jim Rolph. No domingo coloquei os Rolph na minha e pude comparar então as gravações (inclusive da minha própria R9 com os Custom Bucker). As duas R9 são absurdamente equilibradas, com timbres complexos que respondem quase que acusticamente à dinâmica. Mas elas têm personalidades diferentes, principalmente nos médios.
Pra mim, é impossível agora dizer qual a melhor, por que nesses caso estamos num nível de qualidade onde as diferenças não são mais verticais. São horizontais e estão muito próximas, como cores iguais com tons diferentes.

Finalizando, captadores, como bem sabemos, têm o dever de reproduzir o melhor de cada guitarra e na minha opinião, os Rolph Pretender 58 estão um nível acima de qualquer Gibson (exceto os PAF vintage, é claro). Para um teste desses ser mais fidedigno, para que ele possa realmente comparar as guitarras, seria necessário que todas tivessem os mesmos captadores. Ficou então a vontade de ouvir a R7 ou até a Beano com um par de Pretenders... :)

Oscar Jr.:
Quando reunimos 7 Les Paul numa mesma sala é preciso ter calma e respirar pra fazer uma análise. Caceta, todas soam bem, cada uma na sua praia. Nenhuma das 7 aqui apresentadas soou ruim de qualquer forma. Vamos às participantes:

Gibson Les Paul USA Standard 1981 Goldtop : Entidade à parte. Uma mistura de Tele e Les Paul única.. Realmente nada que eu ouvi até hoje tem o ataque que essa guitarra tem. Uma Les Paul que tem Twang na ponte é complicado mesmo, rsrsrs! 

Gibson Les Paul USA Deluxe 1973 Goldtop : Uma Norlin com letras maiúsculas. Gibson Dark Age? Que nada! Corpo Pancake pegada e timbre característicos dos Mini Humbuckers. Histórica e como disse o Paulo, uma senhora que merece respeito. Não dá pra comparar com as demais também por conta dos Mini humbuckers que têm uma sonoridade mais restrita de frequências e menos dinâmica que os Humbuckers full-Size. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 1957 Reissue Goldtop: Dentre as Custom Shop testadas ela foi a que soou mais discreta. Os Burstbuckers 1 e 2 têm mais força e um timbre um pouco mais direto e sem tanta nuance que com drive fica simplesmente matador. É um cap que a Gibson não deveria ter tirado das Custom Shop na minha humilde opinião. Acho que soam melhores que os Custom Buckers que equipam as 2013. 

Gibson Les Paul USA Standard 2008: É o som moderno da Gibson. Os BurstBucker Pro casam com essa guitarra (chambered) como uma luva e assoviam bonito sob boas doses de ganho. Não tem tanta complexidade como as Reissue até pelas diferenças de estrutura e hardware, mas não é esse seu propósito e sim de ser uma guitarra "Pau pra toda obra" do músico. Nesse quesito ela se sai extremamente bem, desde o Blues até o Hard Rock mais pesado. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 2013 1959 Reissue: Essa é o resultado da saga nos ultimos posts. Talvez a Les Paul mais "aberta" e transparente que já ouvi e toquei. Mesmo com os Custom Buckers que não tem o ataque e estalo bonito dos Rolph, ela já soava bem. O Paulo deve fazer um post só dela no futuro, mas com certeza as R9 tem algo especial. A Gibson tem alguma macumba pra essas guitarras. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 2003 1959 Reissue: Sou suspeito pra falar dessa guitarra (ja abordamos ela no post anterior), mas basta dizer que toquei 3 notas nela e sabia que seria minha. Soa um pouco mais grave que a do Paulo mas com a mesma complexidade e transparência dos médios. Já testei uns 4-5 captadores nela e todos soam com o mesmo DNA.

Gibson Les Paul Standard Custom Shop Beano 1960 Reissue: Woman tone pronto no captador do braço e crunch total no da ponte. Que guitarra interessante, a Gibson realmente toma cuidado nessas edições especiais e comemorativas. Braço fino e rápido, tampo com um lado flame e outro plain (como a original) e tudo mais que essa guitarra merece. 

Resumo sucinto de todas as meninas da foto. Poderíamos fazer um post completo de cada uma delas! :-)


Rodrigo Rassele:
R9 2013: quando peguei ela na mão e toquei ainda desligada, senti imediatamente o pouco peso e o som aberto e ressonante dessa guitarra. Plugada, isso se confirmou.  Óbvio que se tratava de uma guitarra escolhida a dedo. Quando comprei minha custom shop cheguei a testar mais de 20, e era isso que procurava. Pensei: esta é a guitarra certa pro cara certo... Porém o Paulo apresentava uma cara de estranheza... Me deu a impressão dele ainda não saber o que tinha em mãos...

R0 Beano: Guitarra da linha custom shop signature que oferece o timbre que se propõe, o famoso "woman tone". Sempre tive essa impressão mas agora ela ficou muito mais clara nesta comparação lado a lado com as R9.  Braço fino com excelente tocabilidade - o tal do "Thin Clapton Profile".

R9 2003: Essa veio pra ganhar. Uma R9 2003, considerada a melhor safra das reediçoes, já tunada pra mostrar todo seu potencial. Que som! Tudo perfeito na medida certa, definiçao, dinamica, corpo e toda complexidade que ouvimos nos videos com as originais. LP perfeita. Esses captadores Rolph...

R7 GoldTop Legítima reedição de uma LP 57. Não é feita para soar como uma burst, o som é mais fechado e encorpado. Braço gordo, robusto e um lindo tampo com acabamento Gold Top. Os captadores burstbuckers é que não estão no nível da guitarra. Tem grande potencial para ser tunada. A R7 é uma excelente relação custo X beneficio pra quem quer uma LP custom shop sem ter que vender um rim, podendo custar a metade de uma R9.

73 e 81: Duas Gold Top com aged original, feitas numa época em que a Gibson não tinha muita preocupação de ser fiel às dos anos 50, por isso mesmo com especificações diferentes das clássicas. A 81 já esta devidamente tunada com som de strato no braço bem evidente. A 73 também teve o teste um pouco prejudicado por estar totalmente original e sua parte elétrica deixando a desejar. Mesmo assim, as duas produziram som com o DNA puro de LP.

Standard: foi interessante levá-la para essa comparação. Deu pra ver exatamente o que a Gibson quer com a standard. Guitarra feita em série com acabamento e tampo que não perde em nada pras custom shop. DNA de LP sem frescuras para o cara que quer uma LP com visual quase idêntico às originais porém não é exigente com a complexidade do timbre.

Todas soaram com o DNA Gibson Les Paul. Todas reproduziriam em um ensaio um timbre muito próximo ao seu ídolo que usa LP. A R9 do Junior, já com caps Rolph, está perfeita: definição, dinâmica e complexidade tipica de uma burst original. Aliás, esse som não sai da minha cabeça... A Beano é uma guitarra com uma proposta especifica e desempenha seu papel ao reproduzir o famoso "Woman Tone". Os captadores, ao meu ver, se mostraram os melhores da Gibson presentes no teste. A R9 do Paulo é fantástica. Pra quem já testou varias custom shop basta pegá-la e tocá-la ainda desligada que se percebe que é uma LP especial. Claro, faltou aquela tunada assinatura Paulo... A R7 é a mais charmosa, com o seu GoldTop lindo - apresentou grande potencial para tunagens, mas os burstbuckers deixaram a desejar. As veteranas 73 Deluxe e 81 Standard assistiram tudo sem nenhuma pretensão de serem melhores ou piores, mas sim diferentes. Pertencem a uma outra época, com outras especificações e não fizeram feio. A corajosa Standard (chambered)  apresentou nitidamente o timbre mais pobre e simples com seus burstbuckers Pro. Porém vi com exatidão a proposta da Gibson com essa guitarra. Oferecer uma guitarra leve, com acabamento excelente,  top belíssimo, digno de uma CS, porém com um timbre descompromissado, sem complexidade e sem muita definição, mas ainda com o DNA "Les Paul".


Conseguimos fazer um vídeo rápido - e só fizemos porque alguém lembrou do blog na última hora! :). Trilha sonora: ZZTop Down Brownie. Pearly Gates  na veia.



 Les Paul sunburst... Tem coisa mais instigante que isso? :)

Bem, imaginamos que muitos aqui estão ávidos por detalhes dessas guitarras, sons, etc. Ao longo da semana, de acordo com as perguntas, voltaremos aqui e editaremos o post aos poucos, acrescentando essas informações, tipo "on demand"...
E ainda preciso editar o áudio que gravamos pra ver se dá pra fazer um post interessante.

Oscar Isaka Jr., Paulo May e Rodrigo Rassele: um brinde à todos! :)





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